Giovanna* e Helena* moravam em Diadema (SP) com seus pais. Com diferença de apenas 1 ano de idade, as duas eram muito unidas, inclusive, na escola.
Giovanna, de 8 anos, era a irmã mais calma e tímida, não interagia muito com as demais crianças, tinha medo de quase tudo e ainda não sabia ler e escrever. Já Helena, de 7 anos, apresentava um comportamento mais agressivo, falava sobre tudo e quase sempre batia e cuspia nos colegas, apesar de nova, tinha fortes palavrões em seu vocabulário.
Os professores lidavam com a situação como algo normal, visto que as crianças se expressam de maneiras variadas, em especial, quando estão adquirindo valores e conhecimentos diversos, comuns para a idade.
Em casa, a situação não era diferente. Marisa*, mãe das meninas, precisava trabalhar para garantir o sustento da casa, visto que seu marido estava desempregado. Sempre que saía, tinha consciência de que as filhas ficariam em segurança com o pai.
O que Marisa não sabia era que ao ir trabalhar, seu marido chamava as filhas para dormir com ele, momento em que abusava sexualmente delas. Os abusos começaram como gestos de carinho, ensinando para Giovanna e Helena que elas só poderiam fazer ‘carinho’ no pai e que não poderiam contar para ninguém. Durante a violação, as irmãs eram obrigadas a assistir vídeos pornográficos — impróprios para a idade — adquirindo, assim, um comportamento sexual precoce.
Quando voltava para casa, Marisa tinha o costume de cuidar das filhas, ao dar banho, estranhava as partes íntimas estarem, na maioria das vezes, vermelhas, mas pensava que poderia ser alguma assadura, sem acreditar no que poderia estar acontecendo.
Até que um dia, a escola resolveu realizar uma atividade lúdica com as crianças, usando a história em quadrinhos como forma de abordar o abuso sexual com os pequenos. Era uma maneira de ensinar para as crianças o que era carinho e o que não, até onde era higiene ou não e torná-las conscientes de seus direitos.
“Falando sobre o assunto com essa turma, a professora fez a leitura do gibi na sala e uma criança levantou e disse que o pai fazia aquilo, em seguida, a [irmã] de 8 anos disse que era verdade”, relata Jessica*, coordenadora pedagógica da escola.
Ao perceber a situação, a professora imediatamente mudou de assunto, evitando que o caso fosse exposto para toda a sala. Após mudar o foco da aula, o caso foi direcionado para a coordenação da escola, que escutou as meninas e solicitou a presença da mãe.
“Dentro da linguagem da criança, elas me relataram tudo. Chamei a mãe e contei. Ela começou a chorar e ficar nervosa”, lembra Jessica.
Marisa, constantemente sofria ameaças do marido, tinha medo do que poderia acontecer, entretanto, não podia parar de trabalhar, pois era a única renda da família. “Ela sabia que os abusos poderiam acontecer, mas não tinha o que fazer, porque era a única que levava comida para dentro de casa”, ressalta.
Ao tomar ciência da verdadeira situação, a escola encaminhou o caso para o Centro de Referência Especializado de Assistência Social (CREAS), que notificou o Conselho Tutelar. Enquanto Marisa, sabendo que o marido negaria, decidiu colocar um basta na violação e se mudar com as filhas para outro estado.
“Nós denunciamos, o Conselho Tutelar foi atrás, ele [pai] ficou foragido por um tempo, mas como elas mudaram para outro lugar o caso foi arquivado”, finaliza Jessica.
Apesar do caso não prosseguir para a aplicação da sentença, Marisa, Giovanna e Helena, puderam recomeçar longe do agressor e das violações.