Diagnosticar as condições mentais em crianças e adolescentes pode ser difícil, pois, ao contrário dos adultos, eles geralmente têm mais dificuldade em expressar seus sentimentos e problemas. Apesar do desafio, o diagnóstico adequado é essencial para a orientação do tratamento correto.
Amanda*, de 12 anos, é uma das 297 crianças e adolescentes que faz parte do Projeto Prevenção em Saúde Mental em Grupos de Inclusão, da Organização Manaíra, localizada no distrito de Cabo de Santo Agostinho, em Pernambuco. O projeto atende meninos e meninas na faixa etária de 6 a 17 anos, em situação de vulnerabilidade social.
A iniciativa da organização pernambucana promove a redução do agravamento dos problemas de saúde mental, por meio de atendimentos em grupo e individual de uma equipe técnica, formada por psicólogo, fonoaudiólogo, fisioterapeuta e assistente social, e de atividades socioeducativas como artes, yoga, dança e brincadeiras que possibilitem aos beneficiados, a promoção para o seu desenvolvimento mental saudável.
Olhar à saúde mental
Amanda chegou à Manaíra em 2019, aos 10 anos. Segundo a mãe, a menina era muito fechada, tinha dificuldade de se expressar e não interagia com as outras crianças, além de pouco participativa nas aulas da escola. Foi quando recebeu a indicação de procurar um atendimento especializado para a filha no projeto de saúde mental desenvolvido pela instituição.
Inicialmente, Amanda ficou em um grupo psicoterapêutico, composto apenas por psicólogos que trabalharam o desenvolvimento de seu comportamento por meio de brincadeiras. “À medida que fazia as atividades e se relacionava com outras crianças, ela foi se desenvolvendo e amadurecendo mais. No início observamos que para avançar nos cuidados, era necessário que ela fizesse parte do grupo terapêutico que estimularia a parte física. À medida que fazia as atividades e se relacionava com outras crianças, ela foi se desenvolvendo e amadurecendo mais”, revela o psicólogo Claudio Marinho.
A fisioterapeuta Rosangela Pereira conta que Amanda apresentava dificuldades em realizar movimentos e era muito tímida, mas foi se desenvolvendo aos poucos. “Trabalhei sozinha com Amanda no grupo terapêutico. Tendo um espaço só para ela, sentiu-se mais à vontade e passou a conversar, a mostrar os desenhos dela, além das atividades que estimulavam os movimentos do corpo”.
Desabrochar
Em seguida, Amanda passou a interagir com outras crianças no grupo. “Disponibilizamos materiais pela sala para que as crianças e adolescentes possam brincar e se movimentar. Não é necessário utilizar a fala, apenas expressões corporais. Foi então que ela desabrochou, passou a correr e a pular, utilizar os materiais e a se socializar melhor. Acabou sendo pouco tempo neste grupo, pois veio a pandemia e interrompemos as atividades presenciais. Mas mantivemos de forma online. Nesta modalidade, ela passou a conversar mais, contar as histórias do que via na televisão e do que acontecia em sua casa e a interagir com os outros participantes. Não deixamos de lado também os exercícios corporais que ela permaneceu realizando em casa”, conta Rosangela.
Inteligente e hábil
Claudio Marinho revela que, quando Amanda entrou na organização, na entrevista realizada com a menina, observou que ela é muito inteligente e possui habilidade para jogos digitais. “Ela precisava se desenvolver. Ela deixou de ser passiva para ser ativa. Agora, tem mais autonomia. Realizamos uma atividade online denominada “O rei mandou”, em que eles têm que realizar uma ação muito simples em casa e registrar em foto. A Amanda fez a sua atividade e enviou a imagem a todos do grupo. Anteriormente, para ela, isso era muito difícil. Mas para nós, conhecendo a história dela, é um avanço muito grande, ter feito tudo sozinha.
Amanda, hoje com 12 anos, já retornou às aulas na escola e está mais participativa em aula. “Ela conta para nós como é o seu dia a dia em sala de aula. Não está mais em recuperação e é mais vista em classe”, revela contente Rosangela.
Atualmente, a Amanda assiste a vídeos na plataforma do YouTube e recria outros para ela mesma, como forma de brincadeira. Hoje, ela consegue se mostrar melhor, tanto para si própria, quanto para as outras crianças.
Rosangela conta que ela lê tudo o que precisa e escreve para a mãe dela, que está bem feliz com a evolução da filha. “Ainda há umas coisas que precisam ser desenvolvidas nela, mas é uma Amanda bem diferente daquela que entrou na organização há dois anos. Ela está mais segura”.
A Organização Manaíra foi uma das vencedoras do Prêmio Criança 2020, realizado pela Fundação Abrinq. Nesta última edição, a premiação reconheceu três iniciativas voltadas à saúde mental de crianças e adolescentes realizadas por organizações sociais.
Conheça as iniciativas vencedoras do Prêmio Criança 2020.
Projeto ComTato – Fortalecer para transformar histórias
Organização Manaíra – “A verdadeira mudança começa na cabeça e no coração de cada um”
* Nome e imagem alterados para preservar a identidade da criança.